A Loja
Naquele mesmo lugar já existia anteriormente uma chapelaria de homem. A “Sapataria e Chapelaria” é inaugurada em 1941 e só mais tarde começa a vender gravatas e malas e – lá está – sapatos. O projecto de alterações que transformam a loja no esplendor que ainda vemos hoje é datado de 1940, assinado pelo arquitecto Raul Tojal. Os seus artigos distinguiram-se sempre pela qualidade e, muitos, pelo carácter exclusivo. Exemplo disso são os chapéus da conceituada Christys, de que a Lord foi a primeira representante em Portugal. Nesses primeiros tempos pertencia então à família Amorim, que também tinha outras lojas na cidade. Em 1954, quando o pai da actual proprietária primeiro entra na Sapataria Lord ainda é como funcionário. Trabalhou ali seis anos, aprendeu com as vicissitudes e exigências do ofício. Por exemplo, cada um dos funcionários tinha a sua carteira de clientes, para o atendimento ser o mais personalizado possível. Não era bem visto um funcionário atender o cliente de outro. Outro exemplo das minudências do ofício está inscrito nas cadeiras azuis. Sugere uma imagem já em desuso, a postura do vendedor agachado perante o cliente. Reflectindo um pouco sobre isso, maioritariamente os clientes calçam-se e descalçam-se sozinhos, pois tudo ruma à autonomia na experiência de consumo actual.
Pelo contrário, as lojas tradicionais, em geral, falam-nos de um tempo de colaboração, de conversar como quem pede, de relatar novidades como quem encomenda, e de não ter os produtos à mão, de ser servido. Já não são muitas as sapatarias que têm banquetas com um plano inclinado à frente para o cliente pôr o pé, como as que se encontram neste loja. Posto tudo isto, e reunidos assim bastantes detalhes do ofício, o Sr. Mário Silva, pai da actual proprietária, sentiu-se pronto para abrir o seu próprio negócio. Fê-lo em 1960 e com o apoio do patrão. Correu bem, e a Godiva deixou de ser uma sapataria isolada em Benfica para se tornar num grupo. Um dia, em 1993, surge a oportunidade de comprar a Lord, junto com outras quatro sapatarias. Assim foi: a nova gestão manteve todo o pessoal, e a Lord manteve a sua identidade característica.
Esse renome de que a loja usufrui deve-se em grande parte à beleza do espaço. A fachada em tons acobreados, a porta, as montras curvas, os óculos em que se destacam certos produtos, as caixas altas de chapéus, tudo conflui num todo que foi pensado assim mesmo, uma “obra ou projecto total” – como outras Lojas Com História, nomeadamente o Galeto – isto é, todos os detalhes pensados em sintonia uns com os outros, das linhas da fachada, à montra, ao mobiliário, incluso os cinzeiros de pé. Estes falam-nos de um tempo em que se fumava dentro deste tipo de espaços, enquanto se observava um amigo a escolher um chapéu, ou a esposa a provar uns sapatos. Apesar de já ter sido sujeita a algumas remodelações, tudo isto, as linhas Art Déco e a inspiração modernista do projecto original continuam vivas e carentes da nossa atenção.


Produtos
& Serviços
Sapatos, chapéus e malas.